Invenção da Ibiapaba: Seca e Migrações.

14/09/2016 20:17
A Invenção da Ibiapaba: Seca e Migrações.

Por: Victor Rodrigues de Almeida.

 

Palavras iniciais.

 

Escrever História é dar visibilidade a inquietude que há em nós. Cogitar e escrever a respeito da História da região na qual vivemos, é ser personagem e artífice da própria trama histórica. O historiador, estudioso dos homens no tempo, é o indivíduo que traz consigo perguntas que buscam desvendar realidades dentro dos acontecimentos humanos.   Nesse sentido, escrever o acontecido das coisas humanas, é estar no âmago de responder os nossos anseios ontológicos.

O passado, para o historiador, é o espaço de boas perguntas. Estas são as bússolas das narrativas. O homem, é um ser propenso a narrar. Ele precisou tornar comunicável aos outros homens e aos deuses as suas mais profundas necessidades e angústias. Contar uma história nos dar a sensação de que estamos de posse do mundo, que as palavras são as sombras que encaixam-se perfeitamente em cada coisa. Mas não existe uma correspondência ideal entre as coisas e as palavras que lhes vestem. O mundo é o grande espelho onde o homem vê a si mesmo ao atribuir valores aos acontecimentos. Toda narrativa toca no problema do paradoxo da ação: o homem é um ser que está lançado ao mundo, é um ser-com- mundo, como salientou Heidegger. As narrativas fundam espaços simbólicos onde nos movemos na aventura do sentido.

A História não aborda apenas a condição de anterioridade das ações humanas. A História tem compromissos em fornecer respostas para a compreensão do presente. A transformação do passado em texto é elaborado a partir dos interesses dos homens do presente. O passado não existe para o passado.

 

Era comum no Brasil Imperial e Colonial, os grandes rios, as grandes serras e matas extensas assumirem o papel imaginário de fronteiras entre as Capitanias, Povoados, Províncias e Vilas.  As mais antigas Cartas Régias estabeleceram a Serra da Ibiapaba como divisa natural entre o Piauí e o Ceará.  No século XIX as antigas Capitanias se transformam em Províncias, porém o atrito entre o vizinho Piauí permaneceu. A Serra da Ibiapaba como espaço social, surge historicamente em meio a conflitos em torno do poder da terra, da delimitação territorial.  A Serra da Ibiapaba foi assunto de intermináveis debates travados durante Ceará imperial, a questão era: a qual Província pertencia a região serrana, ao Piauí ou ao Ceará?  

É no século XIX, que a região da Ibiapaba aparece nos livros de estudos geográficos financiados pelo o Império.  Qual papel desempenhou a Serra da Ibiapaba no cenário da seca de 1877? Como as autoridades locais interpretavam o fenômeno das migrações de retirantes? Quais as medidas que as autoridades ibiapabanas tomaram para dar conta de levas de retirantes que dirigiam-se com destino à Ibiapaba? A Seca de 1877 foi a impulsionadora de migrações para a Serra da Ibiapaba, do crescimento demográfico e da formação do espaço urbano das nascentes Vilas e cidades, uma vez que as autoridades ibiapabanas utilizaram-se da exploração do trabalho de retirantes nas construções das primeiras Igrejas, cadeias, hospitais, escolas, mercados, açudes e as mais diversas obras. A Serra da Ibiapaba foi no imaginário popular sertanejo um símbolo paradisíaco em meio a um sertão tórrido e hostil a vida.

Sendo assim, o século XIX é decisivo na história da Ibiapaba, é o período no qual surgem as sementes das primeiras cidades serranas. As dificuldades trazidas pelo o fenômeno da seca atraiu populações de retirantes à estabelecerem-se na Ibiapaba.



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