Em visita ao 'NY Times', Trump condena movimento de ultradireita 'alt-right'

Em visita ao jornal americano "The New York Times", o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, distanciou-se nesta terça-feira (22) do movimento denominado 'alt-right', de ultradireita, que o apoiou durante a campanha.

A declaração foi feita em meio a um escândalo provocado por um vídeo de uma reunião recente deste movimento, no qual os participantes comemoram o resultado da eleição presidencial com saudações nazistas, com o braço direito esticado.

"Eu o desautorizo e condeno", disse Trump sobre o movimento. "Não é um grupo que quero incentivar. E se eles têm força, quero analisar isto e descobrir porque", comentou.

"Heil, Trump!", gritam os seguidores do movimento, em uma cena que chocou o país e motivou fortes pressões para que o presidente eleito condene este apoio.

No vídeo filmado pela revista The Atlantic, membros do grupo de extrema-direita alt-right aparecem com o braço estendido gritando 'Viva Trump, viva o nosso povo, viva a vitória'  (Foto: Reprodução/ YouTube/ The Atlantic)

No vídeo filmado pela revista The Atlantic, membros do grupo de extrema-direita alt-right aparecem com o braço estendido gritando 'Viva Trump, viva o nosso povo, viva a vitória' (Foto: Reprodução/ YouTube/ The Atlantic)

A visita de Trump ao Times ocorreu mesmo depois de o republicano publicar em sua conta no Twitter que iria cancelar o encontro, porque o jornal teria mudados os termos do encontro. Já o Times informou que foi Trump quem tentou mudar os termos, pedindo que todo o encontro fosse feito "em off", jargão jornalístico para uma conversa em que a fonte das informações não é identificada.

Durante sua campanha, o republicano criticou diversas vezes o Times e as principais emissoras de TV do país, acusando-os de ter atuado de forma "injusta e desonesta".

 

Nomeação de Steve Bannon

 

Apesar de criticar o movimento 'alt-right', em sua visita ao Times, Trump defendeu a nomeação do polêmico editor Steve Bannon como seu assessor para assuntos estratégicos, que é visto como o porta-voz mais famoso do movimento.

Steve Bannon foi escolhido por Trump para ser estrategista-chefe de seu governo (Foto: AP Photo/Evan Vucci, File)

Steve Bannon foi escolhido por Trump para ser estrategista-chefe de seu governo (Foto: AP Photo/Evan Vucci, File)

"Se eu pensasse que ele é um racista ou um 'alt-right' ou o termo que quisermos utilizar, eu não teria pensado em contratá-lo", comentou o republicano.

À frente do site Breitbart, alinhado com a ultradireita americana, Bannon se tornou uma personalidade famosa para o movimento 'alt-right', como ele mesmo admitiu em julho deste ano.

Segundo jornalistas do NYT, na conversa desta terça, Trump disse que "Breitbart é apenas uma publicação" e acrescentou que Bannon estava passando "por um momento difícil" devido à polêmica provocada por sua nomeação.

 

'Mente aberta'

 

No encontro Trump também disse que está considerando a possibilidade de retirar os EUA do Acordo de Paris, sobre mudança climática, mas ressaltou que tem "mente aberta" sobre o tema. O acordo firmado em Paris no final de 2015 se propõe a reduzir o aquecimento global em 2ºC e foi ratificado pelos EUA em setembro por empenho do atual presidente, Barack Obama.

"Estou analisando essa questão muito detalhadamente. Tenho a mente aberta sobre o tema", disse. Durante sua campanha eleitoral, Trump prometeu que, se eleito, denunciaria os acordos de Paris, chegando a afirmar que a mudança climática era um boato que a China fez circular para prejudicar a concorrência dos Estados Unidos.

Quando lhe perguntaram sobre se acreditava que a mudança climática estava relacionada às atividades humanas, o empresário se limitou a responder: "Acho que há alguma conexão. Algo, alguma coisa. Mas depende de em que quantidade acontece".

Em suas declarações desta terça ao NYT, Trump reconheceu que também analisa a questão da mudança climática do ponto de vista comercial: "quanto custará às nossas empresas" e como afetará a competitividade dos produtos americanos.

 

Palavras gentis sobre Obama

 

O presidente eleito ainda falou sobre seu encontro com o presidente Obama aos jornalistas do "Times". Depois de chamar durante meses Obama de um líder fracassado e sem preparo para ser presidente, encontrou palavras gentis para se referir ao homem que ele vai suceder na Casa Branca em 20 de janeiro.

"Eu não sabia se eu iria gostar dele. Eu provavelmente pensei que talvez não fosse, mas eu gostei. Eu realmente gostei bastante dele”, afirmou.

Obama, um democrata, se encontrou com Trump no Salão Oval em 10 de novembro, dois dias depois das eleições presidenciais. Josh Earnest, porta-voz da Casa Branca, afirmou mais cedo nesta terça que os dois haviam se falado de novo desde então, citando o compromisso de Obama com uma transferência de poder tranquila, mas sem dar mais detalhes.

"Eu tive uma grande reunião com o presidente Obama”, disse Trump ao jornal. “Eu realmente gostei bastante dele.”

"Ele disse coisas muito agradáveis depois da reunião, e eu disse coisas muito agradáveis sobre ele”, afirmou Trump, segundo o jornal.