PARAFRASEANDO [...] [...] à Vida

06/02/2014 21:42

Há algum tempo me fizeram acreditar que as nuvens eram como algodão e logo me imaginava arrancando os pedacinhos e saboreando um pouco daquele doce mágico. Algodão este até mais interessante do que aquele que meus pais compravam para mim, para meus irmãos, pois aquele que estava no céu era desconhecido e incomum: tinha formas e variações, bastava que ventasse na direção certa ou errada, sei lá. E, então, era só dar asas a imaginação, o que é facílimo quando se tem a pureza e a inocência de uma criança. Era um algodão que estava longe, longe, longe, às vezes, no alto da montanha ali do lado. Tratava-se de um local inusitado, o mais diferente, o mais interessante, o mais instigante, que, pela paisagem observada, nos levava a pensamentos e mais pensamentos cheios de alegria, esperança e, principalmente, ilusão, embora na infância esta seja uma palavra cujo significado não modifica os fatos. Quem nunca teve o desejo de subir no alto de uma montanha, andar sobre as nuvens e por a prova aquele doce que, através do desejo de conhecer o desconhecido, movimentava a nossa infantil imaginação, acabando por sempre nos levar ao mesmo local para explorar e conhecer lugares jamais desbravados e para saborear daquilo que se sabia que era doce, apenas?

Mas, ano após ano, nos tornamos adultos e agora eu pergunto: alguém conseguiu realizar seu doce sonho de criança? Aquele de comer um pedacinho da nuvem que era como algodão, doce, sentindo o vento bater na face e assanhando seus cabelos? A resposta é unanime: não! O que era doce se torna amargo. O sonho se transforma em desilusão, mas é apenas mais uma ou a primeira de muitas. Por que aqui todos vivem em prol de si e acabam se esquecendo de amar ao próximo (se é que isso é possível.). Hoje, sonhamos com uma vida digna de nós mesmos. Claro! Se sempre estamos certos, se nos consideramos os “Senhores da razão”, então merecemos o que consideramos ser o melhor. Mas e então? O que acontece? Por que nunca conseguimos a plena felicidade? Por que nunca estamos satisfeitos? Por que sempre precisamos de mais e mais e mais? Por que nossos sonhos caem por terra? É simples! Somos escravos. Somos prisioneiros. Somos, a todo instante, manipulados. Mas de quem é a culpa? Quem é tão ruim ao ponto de fazer isso com o próximo? Por que não podemos simplesmente amar ao próximo como a nós mesmo? Isto é mera ilusão? Ou seria o suficiente para mantermos a consciência tranquila e apaziguar nossos medos? Será que evitaríamos muitos de nossos pecados? Pecados? Existem? De quem é a culpa? Da religião? Do meu patrão? Do seu? De quem ocupa o trono? De quem oculta o crime? Minha? Sua? De quem evita dúvida? De quem duvida da vida? Mas para que tantas interrogações, tantos questionamentos? Isso vai mudar algo? “Não!” – é o pensamento de muitos. E então, vamos nos calar e aceitar, apenas. Façamos como se tivéssemos usando tapa-olhos, como se estivéssemos com a boca costurada e com tampões nos ouvidos. E, assim, continuamos com nossa vidinha mais ou menos em concordância com o que nos é induzido, introduzido, imposto e ensinado todos os dias pelo sistema, pelos donos do poder e, consequentemente da verdade (ou seria da nossa realidade?). Fica a reflexão!

Vivemos numa caverna, como aquela descrita por Platão, na qual desde crianças somos aprisionados por falsos modelos de família, de educação, de crenças, de política, de filosofia, dentre outros, que são perfeitos aos olhos de quem aceita e acredita sem questionar o porquê, porém nos encontramos em pior situação: estamos em condições de vislumbrar a luz, àquela que é apresentada como metáfora ao conhecimento, mas preferimos enxergar sombras e meias verdades à realidade, à nossa realidade; preferimos estar surdos e mudos a escutar e a questionar. A realidade, a verdade é cruel e dura demais, dói, por isso aceitamos e desistimos de vislumbrar uma luz, uma estrela de brilho raro. E a vida? A vida continua, o tempo vai passando e a mídia, principal meio de (manipular) comunicação, vai cumprindo com seu papel e tudo, pouco a pouco ou num piscar de olhos, torna-se modinha: “use (seja lá o que for), é moda!”, “vamos fazer isso ou aquilo, por que o famoso tal faz também”. E assim, a vida imita um vídeo (novelas que modelam a realidade. Não deveria ser o contrário?) e garotos inventam um novo inglês (usam gírias, escrevem de modo resumido, com abreviações e até criam uma “língua” diferente para poder conversar em segredo com seu grupinho). E eu? E você? Continuamos a viver “num país sedento”. Mas acredite: existe uma pessoa que vai até onde ninguém mais tem coragem, a luz é tão instigante para este individuo quanto à nuvem ou algodão, como queiram, é para a criança. Ele vai, ele chega lá. Como? Ler, pesquisar, entrevistar e estudar são armas poderosas. E o que acontece depois? Quem sabe... Às vezes é melhor manter-se calado ou, caso contrário, talvez “um disparo para um coração”.

Somos quem podemos ser. Somos limitados às necessidades do sistema. Um sistema no qual poucos têm regalias, privilégios, dinheiro, enfim. Num sistema onde a maioria tem necessidades a serem supridas, desde as mais primadas a nossa condição humana ao sonho de aceitação social e autorrealização. Que bem definido pela expressão “capitalismo selvagem”: para manter a riqueza material de poucos é necessário que a maioria passe necessidades e todos sejam alienados. Num sistema preconceituoso, hipócrita, egoísta, ambicioso que nos ensina a sermos iguais a ele. Mas o sonho, ah o sonho! Esse é individual e intransferível. Por isso, a única coisa que podemos fazer a vontade é sonhar, sonhar, sonhar e, no mínimo, tentarmos agir em concordância com nossos sonhos, lutar para que se realizem, embora sejam limitados pelas barreiras do sistema. É isso que nos torna quem somos: ser frágil, ser humano. Então, “nós somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter”. Ou seria apenas: somos quem nos permitem ser ...? Reflitam ...