Mídias Alternativas?

Por: Prof. Dr. em História Vitorino

Mídias Alternativas?

Três coisas, pelo menos, considero reprováveis em alguns blogs de “variedades”, que têm se proliferado ultimamente entre nós – o que não significa dizer que os condeno de todo. Em primeiro lugar, a exposição inconsequente, a meu ver, de cenas violentas chocantes (de mortos, acidentes, cadáveres em putrefação, etc). Creio, isso cria uma cultura que valoriza o espetáculo, o sensacionalismo a ponto de não “nos” sentimos mais chocados com o absurdo, o chocante, o fora do comum. Em segundo lugar, a disseminação de futilidades que vão desde noticiar os absurdos que ocorrem nas péssimas telenovelas (que me recuso a assistir, mas respeito quem assiste e acho que, em certo ponto, têm uma função social importante), como se fossem coisas das mais importantes, de vídeos de pornografia, depilação de celebridades, até traições (ou fofocas) de namoradas de jogadores famosos. Por último, a determinação de transformar tudo em notícia: um arroto de uma celebridade em local público, a depilação do púbis de uma modelo, o tropeço de um deputado, a ida da presidenta à praia, usando maiô. Neste último caso, a maioria das notícias é copiada e se traduz em cópia de outras cópias de péssima qualidade.

Contraditoriamente, a exposição da violência, o sensacionalismo e a disseminação de futilidades dão ibope. Funcionam bem. Se o objetivo é o aumento do número de acessos, a estratégia é boa, embora condenável do meu ponto de vista.

Entretanto, de um lado, a mídia passa a ser refém do mercado, pois para atrair investimentos noticia tudo, comprometendo a sua qualidade, criando uma rede de leitores de futilidades. De outro lado, perde autonomia, sendo, na maioria das vezes, cooptada por grupos que estão no poder e que, frequentemente, pagam caro para anunciar, nestes locais, suas ações e projetos, com o dinheiro do contribuinte, claro.

Na pior das hipóteses, cria-se uma mídia “alternativa” totalmente partidária, que reproduz as disputas, interesses e embates no âmbito do poder. Passa-se a ter, de um lado, uma imprensa defensora do grupo que está no poder (eles nem escondem isso) e, de outro, uma mídia ligada aos grupos opositores. Em última instância, para mim, perdem toda a credibilidade, funcionando como mídias manipuladoras de notícias, pretensamente neutras, opiniões e das consciências de uma população sedenta pela polêmica.

Faço minhas as palavras de um personagem do romance de Marcel Proust, em sua obra Em busca do tempo perdido (vol. 1), ao se referir à imprensa de sua época, dizendo que o que é censurável nos jornais “é fazer-nos prestar atenção todos os dias a coisas insignificantes ao passo que lemos três ou quatro vezes na vida os livros em que há coisas essenciais”.