Por uma Teoria da História a partir de Emil Cioran

“Tendo matado o profeta em mim, como terei ainda um lugar entre os homens?”.

Emil Cioran

 

É comum no âmbito acadêmico a utilização de autores considerados excepcionais, célebres, pragmáticos, eméritos e consagrados pela tradição de um dado saber. Em especial, no campo historiográfico, a produção de sentidos em torno da teoria e metodologia da História, tendem a privilegiar autores que perpassam uma atmosfera de racionalidade analítica, instrumental e raquiticamente apolínea. As universidades, esses castelos de fabricação de sentidos sobre o mundo, estabelecem os princípios teórico-metodológicos sobre os quais os indivíduos que a compõem devem se nortear. Se cada estabelecimento de maquinaria do saber instituem as tendências de escrita, então, o espaço de invenção autônoma das ideias não encontram oxigênio para crescer nossas próprias plantas... Quando nossas ideias correspondem as aspirações do que todos desejam saber e ouvir: caímos nas armadilhas da opinião pública sobre as coisas...

Uma escrita da história subversiva, ousada, combativa, inventiva e que passear por territórios epistemológicos novos, é uma escrita que faz as pazes com as pulsões da vida. É preciso questionar a tradição racional presente no cerne da atual historiografia. É preciso esquecer temporariamente os autores miticamente venerados no universo da citações e bibliografias. Mais do que nunca, se faz necessário dialogar com os pensadores “marginalizados” e “esquecidos”.

Nesse sentido, é interessante o olhar peculiar que o filósofo romeno Emil Cioran interpreta o saber histórico e suas funções através dos tempos. O que deseja o homem ao consultar o passado?  O homem almeja buscar na anterioridade dos acontecimentos a incompletude que o atormenta no presente?  Seria a História um cemitério de tentativas, de crimes, de sonhos, de fracassos, de guerras?  Os homens são criaturas lacunares, seres sequiosos de sentidos, seres temporais. Nessa perspectiva, o mundo é o labirintos onde o homem se perde e se encontra...O conhecimento histórico é a odisseia de sofrimentos humanos espiritualizado em “ciência”. 

Não podemos pensar a História sem a categoria do devir, da ação humana no mundo. É pela ação que se manifesta a vida, é pela ação que um ser apresenta sua existência e suas diferenças com outros seres. A ação revela os homens, é por meio dela que procuramos projeta nossa imagem nas coisas. Os intervalos existências entre o que fui, o que sou e o que me tornarei, nos colocam no centro do devir, ou seja, revela nossa condição de indeterminação. A imagem que os homens buscam sustentar de si mesmos, é sempre aquilo que foge deles.  Nossas ilusões são como fantasmas que gostaríamos de emprestar nossos ossos e carne.  Da Queda aos mundos virtuais o homem continua como um fantasma a penetrar nas barreiras das épocas...O homem é o carrasco do sentido...