SONHO PALIMPSESTO

Prof. Valdemar Neto Terceiro, poeta;

 

Um dia, fui de Troia a Ítaca em um flerte entre vinho e Helena.

Caí no limbo. De braços erguidos, havia aquele de Mantua que nunca se absteve da troa da avena distante. Vaguei mediterrâneo.

Da do Cassino, um alegre porto havia no aguarde. Porém, nunca mais fui o mesmo quando aquele Cambará resolveu pegar em armas do alto do campanário, me fui rebelde, nos sertões, antes de tudo, me tornei forte; voltei santo numa calada da noite, pelas janelas:

- Nunca mais! Nunca mais!

Soei agourento, não me quiseram. Tornei-me a brisa e soprei nas árvores de Macondo, nos postes da do Ouvidor, nas matas virgens, nos silêncios de um coração escuro, nas estradas que cruzam desertos, nos perdidos paraísos, no balançar das asas de abutres em colinas verdejantes, nas luzes dançantes que do vermelho ao azul se eternizam.

Naqueles dias, não me quiseram os que habitam folhas, pois ainda a rude pena me comandava o passo, contudo instigaram-me o andar num montante de exílios e tavernas, engenhos e searas. Caí na noite, juntei-me a um pequeno exército de alta patente daquelas margens de Iemanjá. Em miúdos, trocando o meu pretérito em escambos intensos de uma terra vagante em sonos.

O céu ainda era ali, me lembro.

A janela aberta me denunciava a insônia. A luz do abajur vicejava a minha retina. Os dedos seguiam frenéticos no acalanto de alma para o que poderia vir. Ainda não sei o quê além das reticências, ... não-sei, não-sei... Havia um mundo ali, tão dessemelhante!

- Nonada! Quem diria, se me confirmo verdadeiro, onde estaria mesmo?

Nessa de brisa, os campos se tornaram concretos nas ruas de uma preguiça gigante. Pisei no solo das eras e cheguei à máquina do mundo.

Havia um ali, olhou-me abençoou-me e depois inventou o mar.

- Mares de nunc’antes... De nunc’antes!